EU NÃO TENHO CULPA

Faz um tempo eu vejo essa hastag aqui nas redes sociais e ela vem me intrigando e fazendo pensar em várias dimensões da vida.

No geral tenho visto essa hastag em postagens de pessoas pretas usufruindo de algo na vida que a estrutura racista dessa sociedade julgou não ser direito nosso.

Mas como eu disse, EU NÃO TENHO CULPA me levou para um lugar de reflexão de várias dimensões.

A primeira sobre o que é culpa?

Para essa pessoa que vos escreve, a culpa é ancorada numa lógica judaico cristã e foi se afirmando em consonância com os princípios de legitimação dessa sociedade, na qual o binarismo é necessário para reprodução de sua lógica, talvez a maior expressão de binarismo esteja entre, ou melhor na contraposição do BEM e do MAL, fazendo com que tudo obrigatoriamente se vincule a um ou outro.

Nós de matrizes a africana não temos, ou não deveríamos ser guiados por visões binárias e ou maniqueísta de bem e mal, tão logo, não deveríamos trabalhar com a conceituação de culpa. Entretanto na minha humilde opinião o atravessamento de bem e mal como contraposição, ou a necessidade de culpa para nos mover, é mais uma expressão da lógica colonial e de como ela atravessou nossa religiosidade e as formas que expressamos nossa espiritualidade.

Pois bem, ao meu ver, nós enquanto um povo que entendemos que as energias estão o mundo, que elas se movimentam e que é necessário que saibamos movimenta-las, também precisamos entender que cada uma tem o seu lugar e precisamos ter conhecimento de qual energia mobilizamos e de quando devemos mobiliza-las.

 

EU NÃO TENHO CULPA

me leva a pensar também sobre as relações que estabelecemos, e graças a muito da militância interseccional feminista, muita da terapia e das trocas possíveis dessa vida, pude aprender que relações abusivas não devem ser toleradas em nenhuma dimensão da vida e que relações abusivas de fundamenta na capacidade de mover o sentimento de culpa do outro.

 

EU NÃO TENHO CULPA

se eu e muitos, conseguimos a duras penas, obter autoconhecimento e possibilidades que me levam e me colocam em lugares que hoje estou.

 

EU NÃO TENHO CULPA

se as minhas vitórias e conquistas incomodam e se a minha existência incomoda, eu não existo para os outros, eu EXISTO, RESISTO e REEXISTO porque Osun assim quis e o dia que não mais quiser em não mais virei a essa terra.

 

Libertar-se de culpas e amarras são processos que devem passar por diversas dimensões da vida, e não ter mais na culpa o elemento organizativo de vida é um processo muito bonito e engrandecedor. Aqui trabalhamos cotidianamente para que não sintamos mais culpa.

Logo o que vocês pensam ou achem, se trata de processos de vocês, *#eunaotenhoculpa*.

Seguirei aberta as construções coletivas, porém NÃO organizarei mais minhas condutas de vida motivadas por aspectos de culpa.


Escrito em  22/12/2020

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Uma Razão a mais para ser anticapitalista

16 curiosidades ao meu respeito que muitos talvez não saibam.

Minha Dialética